quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vozes agonizantes?

Em meio às manifestações populares ocorridas recentemente no Brasil, vimos que algumas delas se deram através de atos de vândalos. Estas formas, evidentemente, não devem ser aceitas,  nem isentadas do monitoramento e do combate policial. Afinal, depredação patrimonial particular ou pública, é desordem violenta,  uma tentativa de comutação legítima de atos reivindicatórios justos da população, que   em sua maioria se compunham de manifestantes pacíficos, por uma minoria que se introduziu ali, tentando se passar por um grande grupo violento. 
Vimos que a maioria foi ouvida, ainda que parcialmente, garantindo algumas conquistas importantes, que até então vinham sendo empurradas goela abaixo da população, sem nenhuma contestação, como o preço das passagens dos ônibus, a PEC-37, os 70% dos royalties do petróleo dos estados para a educação. Muitos outros problemas ainda urgem de serem corrigidos em nosso país, principalmente a corrupção no meio político, a reforma política e tributária, a saúde, segurança e os altos preços de pedágios em algumas estradas, etc...
Importa que tenhamos constatado um fato; a resignação de um povo deu lugar a sua voz clamorosa. Seu casulo foi desabitado, suas mensagens chegaram aos ouvidos insensíveis daqueles que se despreocupam com os que deveriam ser representados por eles, pois, espertamente, haviam se esquecido que democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, mas não deixaram de lembrar de seus próprios interesses, em detrimento de seus representados.
Entretanto, uma pergunta ficaria em aberto, meio a todo esse barulho. Haveria por parte daqueles vândalos alguma mensagem que eles estavam querendo nos transmitir, embora expressada de forma equivocada ou simplesmente estavam depredando e roubando? Se havia, que vozes são estas? Devemos dar ouvidos a elas? Até então não estávamos habituados a ouvir nem vozes legítimas que dirá as ilegítimas! Não trazem estas, também as suas reivindicações? Certamente são preocupantes, no mínimo, a começar pelos danos que eles causaram. Que são agonizantes, não restam dúvidas.
Não seriam gritos vindos de cidadãos em agonia, cansados de viverem à margem, num país das mais altas cargas tributárias e de pouco retorno em termos de benefícios à população, não propiciando a ela a qualidade de vida merecida. Onde a desigualdade social é assustadora e sua riqueza nacional acaba se acumulando nas mãos de poucos, e na maioria das vezes de forma injusta.
É incorreto afirmar que na sociedade não se devam ter pessoas ricas. Muito pelo contrário, a riqueza é salutar tanto para seus detentores, como para o país onde eles vivem. A pobreza é que é uma desgraça! Mas a riqueza deveria estar a serviço de todos, daqueles que a detém, dos seus próximos, e da sociedade em que eles vivem, gerando empregos, movimentando a economia, os meios de produção, gerando bens e não simplesmente, especulando, cobrando altos juros e altas taxas.
Caso contrário, somente irá fomentar a injustiça social, e seus efeitos serão sentidos de forma sofrida principalmente pelos habitantes marginalizados, que em lugar de sentirem amor pela pátria e retribuí-lo aos seus compatriotas de forma benéfica, ocorre o inverso, ou seja, na medida em que são violados em suas mais básicas necessidades e direitos, deixam explodir os efeitos de viverem à margem social, onde ainda são explorados.
Se na outra ponta do condão, não forem implementadas ações corretivas das causas geradoras de tais distorções, em seu sistema de sociedade como um todo, em lugar de haver apenas um  silêncio contínuo de muitos que agonizam, possa haver um barulho de vozes agonizantes, em desordem.

Prof Diclei H dos Santos

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